quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O que é amizade pra você?

Passamos anos de nossas vidas levando tombos para encontrar a fórmula de uma amizade verdadeira e o máximo que encontramos é a fórmula para fugir das amizades que não são tão amigas. E até isso é falho, por vezes.


É muito difícil identificarmos quem está conosco por amizade ou por interesse. E o interesse vai além da conta bancária; passa pela influência, arte ou dom, beleza ou até mesmo se você é aquele nerd que pode passar a cola da prova mais difícil.


Essa é a vida real. Estamos cercados de cobras. E às vezes nos tornamos cobras sem que percebamos. A inocência fica perdida no berço. A pureza se esvai por entre as mãos da ganância. Sempre queremos mais. Esquecemos da essência. Somos egoístas e, por isso, atraímos pessoas assim.


Amizade pura e verdadeira talvez tenha sido daquele coleguinha de pré-escola, que se abaixou pra pegar o seu lápis de cor, sem se importar se você era o nerd mais assustador do colégio. Ele apenas queria ajudar, ser seu amigo. Não queria saber se você tinha o melhor sobrenome; apenas sabia que os seus olhos queriam sorrir com ele.


Aos poucos vamos entendendo que os culpados de atrairmos pessoas más somos, em grande parte, nós mesmos. Nós que deixamos no passado a pureza e a inocência de uma amizade. Somos esnobes, egoístas... Nada mais previsível que atrairmos pessoas assim.


Quando levamos nossos tombos, olhamos pro lado e quem nos dá a mão não é o cara mais lindo da cidade ou aquela menina linda que você sempre sonhou, mas uma pessoa que sempre esteve ali calada ou, então, o mendigo da rua que você sempre fez questão de ignorar.


O segredo de uma boa amizade parte de nós mesmos. Se olharmos com os olhos do coração, saberemos quem nos quer bem. Pois se as aparências conseguem enganar, a essência sempre nos mostrará o caminho certo.
Andreza Fillizola.

sábado, 11 de setembro de 2010

Eu nunca vou entender.

Mais um domingo que você me liga. Igual faz a uns quatro ou cinco anos. Você beija a sua mãe depois do churrasco, dá um oi carinhoso e finalmente pensa sem culpa na sua ex, cheira sua camiseta pra ver se a coisa tá muito feia e descobre que sua vida está prestes a ficar vazia: chegou a hora de me ligar.
Você não sabe ao certo o que vê em mim, mas também não sabe ao certo o que não vê. Você sabe que pode ter uma mulher mais gostosa do que eu, mas por alguma razão prefere a gostosa garantida, aquela que ainda ri das suas piadas. Mesmo sendo as mesmas piadas há quatro ou cinco anos.
Aí você me liga, com aquele ar descompromissado e meigo de quem só quer ir no cinema com uma velha amiga. Eu não faço a menor idéia do que vejo em você, mas também não faço idéia do que não vejo. Eu posso ter um cara mais gostoso, como de fato já tive milhares de vezes. Mas por alguma razão prefiro suas piadas velhas e seu jeito homem de ser. Você é um idiota, uma criança, um bobo alegre, um deslumbrado, um chato. Mas você é homem. E talvez seja só por isso que eu ainda te aguente: você pode ter todos os defeitos do mundo, mais ainda é melhor do que o resto do mundo.
Aí a gente, sem saber ao certo o que está fazendo ali, mas sem lugar melhor para estar, acaba pulando o cinema que nunca existiu e indo direto ao assunto. O mesmo assunto de quatro ou cinco anos que, assim como as suas piadas, nunca cansam ou enjoam.
E aí acontece um fenômeno muito estranho comigo. Mesmo quando não é bom, mesmo quando cansado e egoísta você não espera por mim e vira pro lado pra dormir ou pra voltar à sua bolha egocêntrica de tudo o que é seu, eu sempre me apaixono por você. Todas as vezes que te vi, nesses últimos quatro ou cinco anos, eu sempre me apaixonei por você. Eu sempre estive pronta pra começar algo, pra tomar um café de verdade, pra passear de mãos dadas no claro, pra poder te apresentar ao sol sem receber mensagens de gente louca ou olhares curiosos, pra escutar uma piada nova. E você sempre ignorou esse fato, seguindo seu caminho que sempre é interrompido pelo vazio da sua camiseta fedendo a churrasco. Eu nunca vou entender. Eu nunca vou saber porque a vida é assim. Eu nunca vou entender porque a gente continua voltando pra casa querendo ser de alguém, ainda que a gente esteja um ao lado do outro. Eu nunca vou entender porque você é exatamente o que eu quero, eu sou exatamente o que você quer, mas as nossas exatidões não funcionam numa conta de mais.
Eu só sei que agora eu vou tomar um banho, vou esfregar a bucha o mais forte possível na minha pele e vou me dizer pela milésima vez que essa foi a última vez que vou ficar sem entender nada. Mas aí, daqui uns dias, igual faz há uns cinco ou seis anos, você vai me ligar. Querendo pegar aquele cineminha, querendo me esconder como sempre, querendo me amar só enquanto você pode vulgarizar esse amor. Me querendo no escuro. E eu vou topar. Não porque seja uma idiota, não me dê valor ou não tenha nada melhor pra fazer. Apenas porque você me lembra o mistério da vida. Simplesmente porque é assim que a gente faz com a nossa própria existência: não entendemos nada, mas continuamos insistindo.
Tati.

segunda-feira, 26 de julho de 2010


Passei um tempo de cabeça vazia. Dediquei algumas horas dos meus dias em branco para lembrar do que fiz. Ri muito, me arrependi muito, depois tive a certeza de que não deveria me arrepender. Faz pouco tempo que eu deixei me levar. Deixei um pouco de pensar no que eu deveria fazer ou em como deveria agir e me dei um tempo de dietas bobas, trabalhos gigantes e parece - me que a insônia me deu uma cordial trégua. Deixei-me fluir. Nos momentos em que me deixei fluir, usufruí de um enorme gozo sem a trabalhosa tarefa de tudo passar pela minha rígida censura. Fiquei de pijama o dia inteiro, dei férias ao meu rosto de uma pesada maquiagem antes de sair à noite, fui à padaria sem pentear o cabelo. Comecei um livro. Só comecei.Me embebedei em dia de semana. Dancei, dancei, dancei. Cantei de olhos fechados... me permiti estar sozinha em um bar cantando aos gritos enquanto os outros me olhavam. Paguei minha conta. Saí sem me despedir. Qualquer coisa a culpa não tinha sido minha. Almocei às duas. Jantei das três da tarde às dez da noite, chocolate, pizza e refrigerante. Ri incessantemente de uma comédia idiota na televisão. Dormi quando tive vontade. Fiz pouco de comentários idiotas e gente mesquinha. De homem sacana a minha ingenuidade esgotou. Desliguei o celular. Saí no carro gritando pela janela, escutando música no último volume. Estive em minha plenitude total. Alguns dias depois um velho amigo me acordou às seis da manhã. O toque do despertador gritava me avisando que as férias tinham acabado.


by Cereja

terça-feira, 13 de julho de 2010

Porra. Quando eu penso que não vou gostar de você, quando eu te acho um escroto, uma pessoa feia e nada daquilo que eu sempre quis e precisei, eu gosto de você. Começo a gostar. Não chega a ser aquele gostar que eu sentia por outras pessoas. E até sinto um alivio nisso. Não sei quem você é, nem sei do que você gosta, ou sua comida preferida. Não sei com que cara você acorda pela manhã e nem com quem costuma sair. Eu apenas sei essas poucas coisas perdidas que você me conta. Você tem um jeito bonito de sorrir e de ir embora. E tem um jeito simpático de me fazer rir com qualquer coisa que você diga. E no entanto eu nem te conheço. Te vejo de vez em nunca. Nem se quer ouço sua voz todos os dias. Mas eu sei como gostar disso. E nem sempre foi assim. Antes te achava um completo estranho habitando minha vida. Agora não mais. Agora te acho intimo de todas as coisas que eu tenho, intimo da minha vida, da minha intimidade. E eu nem queria isso. Nem queria criar esse vinculo estranho entre a gente. Você deveria ser apenas mais um na minha vida, apenas um conhecido que resolveu passar algum tempo comigo - um tempo bom mas apenas um tempo. Na verdade, eu é que não estava preparada pra te manter longe. Você tem um jeito bonito de ser comigo, é difícil não gostar. Você tem um jeito bonito de dizer que meu cheiro ficou em você, um jeito bonito de ser... você. Porra. Eu não deveria gostar de você, não deveria lembrar de você pelas músicas e pelas pessoas. Mas olha cara, não tem mais como te tirar dessa, desse buraco fundo que costuma ser minha vida. O jeito é você ficar por aqui, te guardei um espaço bonito, que nem o espaço que eu encontrei no seu abraço gostoso.

domingo, 4 de julho de 2010

Acabo de chegar em casa e ver tudo diferente. Ainda estou fechando os olhos e tentando encontrar a parte mais quente das suas costas. Ainda estou com este riso bobo na cara, matando a saudade de ter quinze anos e uma vida linda pela frente.
Pode ser mesmo que isso passe, pode ser que amanhã eu acorde e você tenha ido embora. Ainda assim, ainda que amanhã chegue para estragar tudo, poder chegar em casa e ver tudo diferente já são milhões de quilômetros rodados. Zilhões.
Você não sabe, nem sonha, mas você acaba de zerar minha vida. Minha vida era acordar todos os dias e sentir aquele gosto de merda na boca. Minha vida era vestir a armadura e relembrar com dor pela milésima vez todos os últimos podres de todas as pessoas podres que passaram ultimamente pela minha vida. Você acaba de zerar tudo. Com a parte mais quente das suas costas, com o seu medo de beijo na orelha e com o seu jeito de se desculpar por ser inconstante demais.
Este texto é pra te falar uma coisa boba. É pra te pedir que não tenha medo de mim. Sabe esses textos que eu publico aqui falando putaria? Sabe esses textos falando que eu sei disso e sei daquilo? Eu não sei de nada. Eu só queria ser salva das pedras, eu só queria aprender a pegar carona nas ondas. Eu só queria que isso que eu tô sentindo agora durasse mais de uma semana. Eu só queria poder chegar em casa e ver tudo diferente. Ver tudo bonito. Ver tudo como de fato é. E você salvou minha vida. O mundo está lindo. Não tenha medo de mim.
Eu só queria que esta minha vontade de perdoar o mundo durasse. Hoje eu não odiei os motoristas de ônibus, o clima quente, minha mãe, o guarda do cursinho, o motoqueiro que quase sempre me atropela, a rua sem sinal, a garota que fala alto, aquele cara que você sabe quem é. Hoje eu não odiei nada nem ninguém. Eu apenas fiquei lembrando, a cada segundo, de cada detalhe. E você salvou meu dia, minha semana. E salvar meu dia já são zilhões de quilômetros. Você é meu herói.
Não tenha medo deste texto. Não tenha medo da quantidade absurda de carinho que eu quero te fazer. Nem de eu ser assim e falar tudo na lata. Nem de eu não fazer charme quando simplesmente não tem como fazer. Nem de eu te beijar como se a gente tivesse acabado de descobrir o beijo. Nem de eu ter ido dormir com dor na alma o fim de semana inteiro por não saber o quanto posso te tocar. Não tenha medo de eu ser assim tão agora. Nem desse meu agora ser do tamanho do mundo.
Eu estou tão cansada de assustar as pessoas. E de ser o máximo por tão pouco tempo. E de entregar tanta alma de bandeja pra tanta gente que não quer ou não sabe querer. Mas hoje eu não odeio nenhuma dessas pessoas. E hoje eu não me odeio. Hoje eu só fecho os olhos e lembro de você dizendo que não importa quantos quilos eu engorde, porque quem me olha é você. Tudo o que eu mais queria, por trás de todos esses meus textos tão modernos, sarcásticos e malandros, era de alguém que não se importasse com os quilinhos a mais. Talvez você pense que não merece este texto. Há quanto tempo mesmo você me conhece? Alguns meses? Mas você merece sim. Hoje, depois de muito tempo, eu acordei e não me olhei no espelho. Eu não precisei confirmar se eu era bonita. Eu acordei tendo certeza.
Não tenha medo. Eu sou só uma menina boba com medo da vida. Mas hoje eu não tenho medo de nada, eu apenas fecho os olhos e lembro de você, fazendo piada ruim às duas da madrugada, me lendo no escuro mesmo com dor de cabeça.
Eu posso sentir isso de novo. Que bom. Achei que eu ia ser esperta pra sempre, mas para a minha grande alegria estou me sentindo uma idiota. Sabe o que eu fiz hoje? As pazes com Los Hermanos, com a Estação e até com o sorvete de Alpino. As pazes com os casais que se balançam abraçados enquanto não esperam nada, as pazes com as pessoas que não sabem ver o que eu vejo. E eu só vejo você me ensinando a dar estrela. Eu só vejo você enchendo minha vida de estrelas. Se você puder, não tenha medo. Eu sou só uma menina que voltou a ver estrelas. E que repete, sem medo e sem fim, a palavra estrela no mesmo parágrafo. Estrela, estrela, estrela.

domingo, 20 de junho de 2010

Pessoa errada.

Pensando bem, em tudo o que a gente vê, vivencia, ouve e pensa... não existe uma pessoa certa pra gente. Existe uma pessoa que se você for parar pra pensar é, na verdade, a pessoa errada. Porque a pessoa certa faz tudo certinho: chega na hora certa, fala as coisas certas, faz as coisas certas. Mas nem sempre a gente tá precisando das coisas certas.

Aí é a hora de procurar a pessoa errada. A pessoa errada te faz perder a cabeça, fazer loucuras, perder a hora, morrer de amor. A pessoa errada vai ficar alguns dias sem te procurar que é pra na hora que vocês se encontrarem a entrega ser muito mais verdadeira.

A pessoa errada é, na verdade, aquilo que a gente chama de pessoa certa. Essa pessoa vai te fazer chorar, mas uma hora depois vai estar enxugando suas lágrimas. Essa pessoa vai tirar seu sono, mas vai te dar em troca uma noite de amor inesquecível. Essa pessoa talvez te mago e depois te enche de mimos fazendo vocês esquecerem o que passou. E também vai estar o tempo todo pensando em você.

Todo mundo um dia tem que ter uma pessoa errada porque a vida não é certa. Nada aqui é certo. O que é certo mesmo, é que temos que viver cada momento, cada segundo amando, sorrindo, chorando, emocionando, pensando, agindo, querendo, conseguindo. E só assim é possível chegar àquele momento do dia em que a gente diz: "Graças à Deus deu tudo certo", quando na verdade tudo o que ele quer é que a gente encontre a pessoa errada pra que as coisas comecem realmente a funcionar direito pra gente...
Nossa missão: Compreender o universo de cada ser humano, respeitar as
diferenças, brindar as descobertas, buscar a evolução.
(: Luiz Fernando Veríssimo.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Cidade do Coração.


Meu coração é um sapo rajado, viscoso e cansado, à espera do beijo prometido capaz de transformá-lo em príncipe.




Meu coração é um álbum de retratos tão antigos que suas faces mal se adivinham. Roídas de traça, amareladas de tempo, faces desfeitas, imóveis, cristalizadas em poses rígidas para o fotógrafo invisível. Este apertava os olhos quando sorria. Aquela tinha um jeito peculiar de inclinar a cabeça. Eu viro as folhas, o pó resta nos dedos, o vento sopra.




Meu coração é um mendigo mais faminto da rua mais miserável.




Meu coração é um ideograma desenhado a tinta lavável em papel de seda onde caiu uma gota d’água. Olhado assim, de cima, pode ser Wu Wang, a Inocência. Mas tão manchado que talvez seja Ming I, o Obscurecimento da Luz. Ou qualquer um, ou qualquer outro: indecifrável.




Meu coração não tem forma, apenas som. Um noturno de Chopin (será o número 5?) em que Jim Morrison colocou uma letra falando em morte, desejo e desamparo, gravado por uma banda punk. Couro negro, prego e piano.




Meu coração é um bordel gótico em cujos quartos prostituem-se ninfetas decaídas, cafetões sensuais, deusas lésbicas, anões tarados, michês baratos, centauros gays e virgens loucas de todos os sexos.




Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo de neon, gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo.




Meu coração é um entardecer de verão, numa cidadezinha à beira-mar. A brisa sopra, saiu a primeira estrela. Há moças na janela, rapazes pela praça, tules violetas sobre os montes onde o sol se pos. A lua cheia brotou do mar. Os apaixonados suspiram. E se apaixonam ainda mais.




Meu coração é um anjo de pedra de asa quebrada.




Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado sobre a qual um único bêbado bebe um único copo de bourbon, contemplado por um único garçom. Ao fundo, Tom Waits geme um único verso arranhado. Rouco, louco.




Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores, é saboroso de todos os sabores. Quem dele provar, será feliz para sempre.




Meu coração é uma sala inglesa com paredes cobertas por papel de florzinhas miúdas. Lareira acesa, poltronas fundas, macias, quadros com gramados verdes e casas pacíficas cobertas de hera. Sobre a renda branca da toalha de mesa, o chá repousa em porcelana da China. No livro aberto ao lado, alguém sublinhou um verso de Sylvia Plath: "Im too pure for you or anyone". Não há ninguém nessa sala de janelas fechadas.




Meu coração é um filme noir projetado num cinema de quinta categoria. A platéia joga pipoca na tela e vaia a história cheia de clichês.




Meu coração é um deserto nuclear varrido por ventos radiativos.




Meu coração é um cálice de cristal puríssimo transbordante de licor de strega. Flambado, dourado. Pode-se ter visões, anunciações, pressentimentos, ver rostos e paisagens dançando nessa chama azul de ouro.




Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar Frankensteins monstruosos que sempre acabam destruindo tudo.




Meu coração é uma planta carnívora morta de fome.




Meu coração é uma velha carpideira portuguesa, coberta de preto, cantando um fado lento e cheia de gemidos - ai de mim! ai, ai de mim!




Meu coração é um poço de mel, no centro de um jardim encantado, alimentando beija-flores que, depois de prová-lo, transformam-se magicamente em cavalos brancos alados que voam para longe, em direção à estrela Veja. Levam junto quem me ama, me levam junto também. Faquir involuntário, cascata de champanha, púrpura rosa do Cairo, sapato de sola furada, verso de Mário Quintana, vitrina vazia, navalha afiada, figo maduro, papel crepom, cão uivando pra lua, ruína, simulacro, varinha de incenso.




Acesa, aceso - vasto, vivo: meu coração é teu.




Caio Fernando de Abreu.

sábado, 12 de junho de 2010

Quem não tem namorado.


Quem não tem namorado é alguém que tirou férias remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namoro de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, de saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.


Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas, namorado, mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda, decidida ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição. Quem não tem namorado, não é que não tem um amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter um namorado.

Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa é quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugida ou impossível de durar.

Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas: de carinho escondido na hora em que passa o filme: de flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, fazer cesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira d'agua, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos e musical da Metro.

Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não chateia com o fato de o seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo, e quem tem medo de ser afetivo. Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e de medo, ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras, e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada, e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo da janela.

Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uam névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteira: Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. Enlou-cresça.

Carlos Drummond de Andrade




http://www.youtube.com/watch?v=ZD3zxIQtFd0 LINDO! (L)

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Refletindo.


Aprendendo...
Aprenda a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de
quem também gosta de você...
A idade vai chegando e, com o passar do tempo, nossas prioridades na vida
vão mudando...
A vida profissional, a monografia de final de curso, as contas a pagar.
Mas uma coisa parece estar sempre presente... A busca pela felicidade com o
amor da sua vida. Desde pequenas ficamos nos perguntando 'quando será que
vai chegar?'
E a cada nova paquera, vez ou outra nos pegamos na dúvida 'será que é
ele?'.
Como diz o meu pai: 'nessa idade tudo é definitivo', pelo menos a gente achava que era.
Cada namorado era o novo homem da sua vida.
Faziam planos, escolhiam o nome dos filhos, o lugar da lua-de-mel e,
de repente...

PLAFT! Como num passe de mágica ele desaparecia, fazendo criar mais expectativas a respeito 'do próximo'.
Você percebe que cair na guerra quando se termina um namoro é muito natural,
mas que já não dura mais de três meses.
Agora, você procura melhor e começa a ser mais seletiva.
Procura um cara formado, trabalhador, bem resolvido, inteligente, com aquele papo que a deixa sentada no bar o resto da noite.

Você procura por alguém que cuide de você quando está doente, que não reclame em trocar aquele churrasco dos amigos pelo aniversário da sua avó, que jogue 'imagem e ação' e se divirta como uma criança, que sorria de felicidade quando te olha, mesmo quando está de short, camiseta e chinelo.
A liberdade, ficar sem compromisso, sair sem dar satisfação já não tem o mesmo valor que tinha antes.
A gente inventa um monte de desculpas esfarrapadas, mas continuamos com a
procura incessante por uma pessoa legal, que nos complete e vice-versa.
Enquanto tivermos maquiagem e perfume, vamos à luta... E haja dinheiro para
manter a presença em todos os eventos da cidade: churrasco, festinhas, boates na quinta-feira.
Sem falar na diversidade que vai do Forró ao Beatles.
Mas o melhor dessa parte é se divertir com as amigas, rir até doer a barriga, fazer aqueles passinhos bregas de antigamente e curtir o som...
Olhar para o teto, cantar bem alto aquela música que você adora.
Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com uma outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela.

Percebe também que aquele cara que você ama (ou acha que ama), e que não
quer nada com você, definitivamente não é o homem da sua vida.
Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você.
O segredo é não correr atrás das borboletas...
É cuidar do jardim para que elas venham até você.
No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem
estava procurando por você!'

terça-feira, 1 de junho de 2010

Estou há horas no MSN e sobe a plaquinha de você entrando. Paro tudo que estou fazendo e repito em mantra: eu não gosto dele, eu não gosto dele, eu não gosto dele.

Acho que consegui estragar todos os meus relacionamentos simplesmente porque gostei demais das pessoas. Dessa vez quero acertar, por isso combinei comigo que, apesar de estar morrendo por você, eu NÃO gosto de você.

Espero você vir falar comigo. Um, dois, três, dez segundos. Meu coração dispara, mas eu mando ele parar. Estraguei todos os meus relacionamentos de tanto que meu coração dispara. Dessa vez quero acertar, dessa vez quero que alguém fique comigo sem temer esse coração que me engole. Cansei de ser sempre aquela garota certinha, bonitinha, perfeitinha... Mas que sente demais, fala demais, ama demais.

Chega. Dessa vez vou acertar. Não vou chorar na sua frente porque acho um absurdo uma criança na rua e a TPM veio louca dessa vez, também não vou acordar pra te olhar dormir no meio da noite, nem beijar seu rosto com ternura, nem gostar de você como naquela canção do Legião - que diz que é como se não houvesse amanhã. Eu gosto das pessoas pelo prazer de gostar e não porque deu tempo de gostar delas. E ninguém entende nada. E todo mundo se assusta. Mas prometo ser uma menina normal dessa vez.

Você não sabe por que eu não respondo suas mensagens a dois dias. Eu te conto que é porque estava muito muito ocupada. Minhas amigas sempre usam essa desculpa. Eu era a insana que mal lia uma mensagem e já respondia quase simultaneamente. Ou pior: eu era a insana que escrevia as barbaridades e mandava por email.

Mas dessa vez tô ignorando as mensagens. Mas você jamais vai saber disso.

E jamais vai saber mesmo, sabe por quê? Porque você é o primeiro homem do mundo que não sabe que eu escrevo sobre a minha vida. Que não sabe da existência desse blog. Chega. Todos os homens morrem de medo disso. E eu não agüento mais essa cantoria velha e covarde. Você é diferente, mas eu não to afim de arriscar não. Chega.

Você me salvou. Eu não agüentava mais pensar nos mesmos caras que eram sempre os mesmos caras. Com as mesmas roupas, com os mesmos assuntos, andando com os mesmos amigos. Você é novinho em folha e eu sou louca por você. Mas tudo isso eu não te conto pra você não achar que eu sou louca. Chega. Dessa vez vou fazer tudo certo.

Já perdi a conta do quanto a gente já conversou e apesar de eu me encantar com os seus olhos, com as suas palavras, com a sua inteligência e esse charme de quem sabe o que quer... Eu nunca te elogiei. Eu quero eternizar o seu sorriso lindo – mas eu nunca falei dele pra você. Nem falei do seu cheirinho bom. Que é o cheiro de uma nova vida que eu estava precisando tanto. Não quero falar que te adoro principalmente porque eu já nem sabia mais como era adorar alguém novinho em folha antes de você aparecer. Não, eu não vou sonhar com você. Chega de sonhar com passeios de mãos dadas. Dessa vez vou fazer tudo direito. Chega.

E você nem sonha que eu sou meio ciumenta, bem chata, quero ser mãe e acredito no amor da minha vida. Acredito no amor pra sempre. Acredito em alma gêmea. Você nem sonha com essas coisas porque só conversamos coisas leves e engraçadas. E alguns assuntos cabeça também pra eu poder saber o quão inteligente você é.

Chega de ser a mocinha intensa. Que escreve. Que ama até virar do avesso. Não. Chega.

Eu corro pro espelho e repito cem vezes que EU NÃO GOSTO DE VOCÊ. Não gosto de você. Não gosto de você.

Porque se eu gostar de você, eu sei que você vai embora. Pra mais longe ainda. E eu simplesmente não agüento mais ninguém indo embora. Porque nesse mundo maluco só se dá bem quem ignora completamente a brevidade da vida e brinca de não estar nem aí para o amor. E eu preciso me dar bem e por isso ignoro minha urgência pelo seu beijo, pelo seu toque. Porque, se você sentir urgência em mim, vai é correr urgente daqui. Chega. Estou morrendo de vontade de ser eu, mas ser eu só tem me feito perder e perder. E eu quero ganhar. Só dessa vez. Chega.

Mas eu quero me dar de bandeja pra você. Dizer com todas as letras: A-P-A-I-X-O-N-A-D-A! Boba. Louca por você. E dentro de mim uma voz diz: vai, fala. Se abre. Revela. Vive um dia e já está bom. Mas não. Depois eu demoro semanas pra me levantar porque fui intensa e vivi um dia. Não agüento mais nada disso. Por isso, dessa vez, eu não vou gostar de você. Tchau. Digo que vou sair do MSN porque estou cansada. Você jura que eu não estou nem aí pra você. Melhor assim. Dessa vez quero fazer tudo certo.

Chega de fazer tudo errado.

Aí eu fico off line e olho aquele bonequinho verde do lado do seu nome. Três segundos e você também sai. A minha vontade é te ligar, pra contar o quanto gosto de você. E te pedir em namoro. E me declarar. Falar palavras lindas, frases perfeitas, poéticas, sensíveis. Mas não! Eu sou uma mocinha. E mocinhas só se declaram depois de um mês de namoro. Ou depois que o garoto fala que gosta delas. Dessa vez vai ser assim. Chega.

E se você não desistir mesmo com todo esse teatro que eu estou fazendo... Vai ser a prova de que eu precisava pra saber que você realmente vale a pena.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Eu não sou cachorro (de Pavlov) não.

Se meu coração não se emociona mais, fiquei me perguntando o que eu estava fazendo ali.
Se não sonho mais, não planejo mais, não desejo mais, não espero mais nada, o que eu estava fazendo ali?
Não te amo mais, queria dizer a ele, pela primeira vez, sem esperar que ele sofresse com isso. Sempre quis que ele sofresse com o dia em que eu não o amasse mais. Mas justamente porque eu não o amo mais, nem quero mais que ele sofra. Aliás, não quero mais nada. Só ir embora.
Eu só queria ir embora. Então, por que eu simplesmente não ia embora? Por que eu continuava obedecendo os comandos do meu ex-dono, sendo que ele não é mais dono nem do meu dedinho do pé que tem a unha mais curta?
Claro que sobrou um carinho, uma amizade, uma graça. O mesmo que tenho pelo resto da humanidade que julgo digno de alguns minutos do meu tempo. Mas tudo aquilo, meu Deus, tudo aquilo que era maior do que eu mesma, maior do que o mundo, que me soterrava, que me transportava pra outra realidade, que fazia meu corpo inteiro doer tanto de tanto sangue inchado que passava por ele, tudo aquilo, nossa, acabou. Já era. Então, por quê? Porque eu não dizia simplesmente que tinha ido lá rapidinho pra saber como estavam as coisas, coisas que amigos fazem, e vazava? Por que raios eu não ia embora?
Quero namorar esse homem? Não. Quero casar, ter filhos, envelhecer ao lado dele? Não mais. Nunca mais. Quero transar com ele, ainda que daquele jeito errado em que minha solidão procura um abraço e a solidão dele procura uma sacanagem? Não. Nem a pau. Quero reviver uma memória pra me sentir viva, emprestar uma alegria pura do passado? Não, tô fora de continuar sempre no mesmo lugar, me roubando minhas próprias histórias.
Quero lamentar a falta de um beijo inteiro, um abraço de verdade, um carinho sem medo e uma atenção entregue sem nenhum egoísmo? Não. Não quero mais mudar ou fantasiar ninguém. Deixa o mundo ser como é. Deixa ele ser como ele é.
O que eu queria, que era jogar uma conversa fora com uma pessoa que me conhece tão bem e que eu conheço tão bem e essas coisas, eu já tinha conseguido. Matar o tempo, rir da alma. E só. Coisa de no máximo uma hora, ou duas se eu pudesse beber vinho. Eu já podia ir embora. Mas não conseguia. Por quê?
Quando ele finalmente parou de falar e querer coisas como uma criança de cinco anos que ta pouco se lixando se você tem ou não como lhe dar aquelas coisas e se lhe dar aquelas coisas vai ou não complicar sua vida, o silêncio me contou um segredo que há muito tempo eu já desconfiava: a mente é burra.
Minha mente é burra. Quando minha mãe grita, mesmo ela sendo uma senhorinha fofa e eu tendo o dobro do tamanho dela, sinto um medo absurdo, como se eu ainda fosse aquele menininha de maria-chiquinha. É o sininho do Pavlov, que fazia o cachorro babar por comida mesmo que não estivesse mais com fome. A mente é automática, viciada, comandada, acostumada, burra.
Quando entro no avião pra ir pro Rio de Janeiro, mesmo eu tendo quase trinta anos nas costas e milhas de graça pra ir pra Nova Zelândia de tanto que já fui ao Rio, minha mente está congelada na menina de maria-chiquinha, que tinha medo de ficar longe da mãe, ainda que morresse de medo dos gritos dela. E de novo sinto um medo filho da puta.
E é por isso que quando ele, a pessoa que eu mais amei no mundo pois amei sem os bloqueios e sem a amargura que veio depois de tanto amor, me pede pra ficar, eu fico. Se alguma química idiota do meu cérebro obedeceu aquela voz por anos, por que haveria de parar de obedecer agora só porque o resto todo do corpo já não sente mais nada?
Mas ontem, quando finalmente peguei minha bolsa e fui embora e senti um alivio imenso de sair dali, eu combinei com a minha mente que ela não manda mais porra nenhuma. Chega de ser comandada pela parte mais “xucra” e sem alma da minha existência. Chega.
Quem manda aqui é o mesmo peito que me jogou pra fora daquela casa e daquela situação que sempre só me fez tanto mal e só me levou coisas tão bonitas.
Não quero mais as minhas repetições seguras e infelizes. Ainda que encarar um coração vazio seja mais assustador do que mãe brava, cidades estranhas e amores eternos que acabam.
Tati sempre sabendo o que falar.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Sabedoria.

"Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer."
Fala por mim mais bonito.

domingo, 23 de maio de 2010

E percebi que tinha um misto de nó na garganta com ansiedade melancólica, que só eu sabia o que era, mas que nem com um vômito de gritos sairia. Uma inquietação borbulhante e um sonho patético de menina. Identifiquei-me durante o dia, sobre como estava me sentindo, quando vi um passarinho em uma gaiola saltitantemente se debatendo de um lado pro outro. As asas produziam um estalo aterrorizante, fazendo com que aquele simples bater de asas se tornasse o maior estardalhaço em meio ao barulho mais confuso de todas as coisas. Logo vi, aquele passarinho era eu, era exatamente eu, naquele momento. Ele tinha um nó, um nó na garganta e nas asas, mesmo soltas. Ele estava preso. Eu também. Ele queria mais do que estar limitado àqueles quatro conjuntos de gravetos que se fechavam em uma cachola claustrofóbica. Não consegui dormir, não consegui dormir, minha ânsia de uma nova possibilidade, embaçada no mais tosco sinal de sucesso, se apresentava a mim como um grande acontecimento. Todos me olhavam, eu sei que todos me olhavam ,e o pior ainda, sei que todos me achavam a mais patética e lunática na sedenta vontade de algo que nem davam importância. O grito não saía da minha garganta... Até agora não saiu. Mas eu sei que, em um dia não tão iluminado, não tão bonito, não tão oportuno... estarei com um vestido florido pra o mais fúnebre dos fúnebres dos discos em que rodam a minha vida... vibrar com uma melodia diferente, diferente do condenado e do especulado, do previsível... Tomando-me em uma esfera a qual serei centro, fechando toda a gestalten e deixando para trás tudo o que em aberto havia adormecido. Sacudirei a cabeça tão forte com os tambores, sei exatamente dos quais me refiro, que nesse momento, tenho certeza, preferirei morrer, levando comigo um último suspiro da certeza mais instável que eu tinha desde o princípio.
by cereja

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Glória


Acho que dentre todas as coisas que já vivi... os momentos mais espetaculares e inesquecíveis, são os momentos de glória. São tão fantásticos, porque são singulares, há um envolvimento de todo o corpo, por fora e por dentro... só eu sei como me sinto. Eu resumiria em uma palavra similar: suspensão. É ... suspensão. Parece que tudo se cala, o silêncio me toma em um único gole,minha respiração para por um instante...o coração flutua até a cabeça e a única certeza instável que tenho nesses momentos é a certeza de mim mesma, mais nada. Consigo me observar, suspensa do meu próprio corpo, olhar fixamente para dentro de alguém que conheço a cada instante, eu... Acontece uma espécie de gozo e relaxamento do corpo inteiro e uma alegria tão gritante que só o silêncio é capaz de expressar. Acho que escorrega um involuntário leve sorriso, as pessoas não são capazes de viver como eu o meu momento glorioso, mas podem senti-lo, respirá-lo, não duvido que elas não sejam incapazes de suportá-lo... Afinal, nem todos desejam que a glória se reconheça em mim e que eu seja a própria personificação dela em determinados momentos. Mas ela vem e tira os meus pés do chão para isso mesmo, mostra aos que não me querem tão bem que nem em pensamentos podem me alcançar e que quanto maior é a vontade de que algo dê errado, mais alto vou, mais suspensa fico, mais glória tenho... o que seria desses momentos sem a presença de outras pessoas como testemunhas?

sábado, 8 de maio de 2010

Ciúme não é Ex.

Sobras de minha existência pela casa, escondidas para não irritar a nova mocinha. Meu pijama sufocado num canto da gaveta para que nenhuma lembrança respire. Meus chinelos abduzidos no meio da "sapataiada", tão pequenos que quase inexistem ou poderiam passar tranqüilamente por pares de criança. Fotos, milhares delas, guardadas sem carinho, uma preguiça triste de arrumá-las em álbuns. Estão lá, paralisadas em momentos felizes, tradutoras de uma vida que quase foi, trancadas porque o que quase foi não pode atrapalhar o que ainda pode ser.
Talvez um fio de cabelo, o último deles, esteja nesse momento sendo varrido e levado pelo vento forte e solitário que não deixa dúvidas que o inverno chegou. Inverno que era sempre comemorado porque eu sabia que ele não sentiria tanto calor para dormir e eu poderia ser abraçada de conchinha o tanto que desejasse.
Agora é outra que suspira protegida olhando o quadro do Monet e ri apaixonada de algum provável barulho que ele faça com seu nariz estranho, jurando na manhã seguinte que não ronca.
Saudade não é ex, tampouco amor. Mas a vida da qual abrimos mão por um sonho (ou por um erro) é passado. E de escolhas e de perdas é feita a nossa história. Não há
nada que se possa fazer a não ser carregar por um tempo um peso sufocante de impotência: eu escolhi que aquele fosse o último abraço.
Agora é outra que se perde em ombros tão largos, tomara que ela não se perca tanto ao ponto de um dia não enxergar o quanto aquele abraço é o lado bom da vida. Da vida que te desemprega mesmo depois de tantas noites em claro e de tantos beirutes indigestos. Da vida que te abre
uma porta que você jura ser a certa. Da vida que te confunde tanto que você quer se afastar de tudo para entendê-la de fora. Da vida que te humilha tanto que você quer se ajoelhar numa igreja. Da vida que te emociona tanto que você não quer pensar. Da vida que te dá um tapa na cara pra você acordar e não tem ninguém pra cuidar do machucado e dizer que vai ficar tudo bem. Da vida que te engana. Aquele abraço era o lado bom da vida, mas para valorizá-lo eu
precisava viver. E que irônico: pra viver eu precisava perdê-lo.

Se fosse uma comédia-romântica-americana, a gente se encontraria daqui a um tempo e eu diria a ele, que mesmo depois de ter conhecido homens que não gritavam quando eu acendia a luz do quarto, não amavam os amigos acima de, não espirravam de uma maneira a deixar um fio de meleca pendurado no nariz, não usavam cueca rosa, não cantavam tão mal e tampouco cismavam de imitar o Led Zeppelin, não tinham a mania de aumentar o rádio quando eu estava falando, não tiravam sarro do bairro em que nasci, não insistiam em classificar minhas mãos e pés como seres de outro planeta, não ligavam se eu confundisse italiano com espanhol e argentino, nomes de capitais, movimentos artísticos, datas de revoluções e nomes de queijo, era ele que eu amava, era ele que eu queria.
E ele me diria que, mesmo depois de ter conhecido mulheres que conheciam a Europa e não entupiam o ralo com cabelos, mulheres que tinham nascido em bairros nobres e charmosos de São Paulo, ou melhor, do Rio de Janeiro, mulheres que arrumavam a cama e não demoravam tanto para sentir prazer, não entravam de sapato no carpete, não tinham uma blusa ridícula com uma rajada de dourado, não eram dentuças e tampouco testudas, não cantavam tão mal, não tinham medo de cachorros pequenos, não reclamavam do ar-condicionado e nem tinham medode perder a mãe ou comer uma comida muito temperada, era eu que ele amava, era eu que ele queria. Mas a realidade é que não gostamos desses tipos de filme fraco com final feliz, gostamos dos europeus "cult" onde na maioria das vezes as pessas sofrem e perdem, assim como aconteceu com a gente.

Tati, você fala por mim.






quarta-feira, 5 de maio de 2010

"Amor não se pede"





Se implorar resolvesse, não me importaria. De joelhos, no milho, em espinhos, agachada, com o cofrinho aparecendo.
Uma loucura qualquer, se ajudasse, eu faria com o maior prazer. Do ridículo ao medo: pularia pelada de bungee jump.
Chorar, se desse resultado, eu acabaria com a seca de qualquer Estado, de qualquer
espírito.
Mas amor não se pede, imagine só.
Ei, seu tonto, será que você não pode me olhar com olhos de devoção porque eu estou
aqui quase esmagada com sua presença? Não, não dá pra dizer isso.
Ei, seu velho, será que você pode me abraçar como se estivéssemos caindo de
uma ponte porque eu estou aqui sem chão com sua presença? Não, você não pode dizer isso.
Ei, monstro do lixo, será que você pode me beijar como um beijo de final de filme porque eu estou aqui sem saliva, sem ar, sem vida com a sua presença? Definitivamente, não, melhor não.
Amor não se pede, é uma pena.
É uma pena correr com pulinhos enganados de felicidade e levar uma rasteira.
É uma pena ter o coração inchado de amar sozinha, olhos inchados de amar sozinha. Um
semblante altista de quem constrói sozinho sonhos.
Mas você não pode, não, eu sei que dá vontade, mas não dá pra ligar pro desgraçado e dizer: ei, tô sofrendo aqui, vamos parar com essa estupidez de não me amar e vir logo resolver meu problema?
Mas amor, minha querida, não se pede, dá raiva, eu sei.
Raiva dele ter tirado o gosto do mousse de chocolate que você amava tanto. Raiva dele fazer você comer cinco mousses de chocolate seguidos pra ver se, em algum momento, o gosto volta.
Raiva dele ter tirado as cores bonitas do mundo, a felicidade imensa em ver crianças sorrindo, a graça na bobeira de um cachorro querendo brincar.
Ele roubou sua leveza mas, por alguma razão, você está vazia.
Mas não dá, nem de brincadeira, pra você ligar pro cara e dizer: ei, a vida é curta pra sofrer, volta, volta, volta.
Porque amor, meu amor, não se pede, é triste, eu sei bem. É triste ver o Sol e não vê-lo se irritar porque seus olhos são claros demais, são tristes as manhãs que prometem mais um dia sem ele, são tristes as noites que cumprem a promessa.
É triste respirar sem sentir aquele cheiro que invade e você não olha de lado, aquele cheiro que acalma a busca. Aquele cheiro que dá vontade de transar pro resto da vida.
É triste amar tanto e tanto amor não ter proveito. Tanto amor querendo fazer alguém feliz. Tanto amor querendo escrever uma história, mas só escrevendo este texto amargurado.
É triste saber que falta alguma coisa e saber que não dá pra comprar, substituir, esquecer,
implorar.
É triste lembrar como eu ria com ele.
Mas amor, você sabe, amor não se pede. Amor se declara: sabe de uma coisa?
Ele sabe, ele sabe.
Tati, Tati...

terça-feira, 4 de maio de 2010

Cadê a tampa da minha panela, o chinelo do meu pé cansado, a metade da minha laranja?

"(...)
Ah, sejamos sinceras mulheres modernas: no fundo, no fundo, a gente quer mesmo é alguém pra dormir protegida no peito (de preferência largo, forte e levemente cabeludo).
E nem é medo de ficar pra titia não, além de ter cara de mais nova e ser bem nova, eu sou filha única. É vontade de sentir aquela coisinha misteriosa de "é esse!". Como será sentir isso? Eu sempre sinto que "pode ser esse, ou talvez com algumas mudancinhas possa ser esse ou talvez se ele quisesse, poderia ser esse...". Não, isso tá errado. Quero sentir que "é esse".
Dizem que materializar os sonhos escrevendo ajuda, então lá vai: quero transar com beijo na boca profundo, olhos nos olhos, eu te amo e muita sacanagem, quero cineminha com encosto de ombro cheiroso, casar de branco, ser carregada no colo, filhos, casinha no campo com cerquinha branca e caseiro bacana. Quero ouvir Chet Baker numa noite chuvosa e ter de um lado um livrinho na cabeceira da cama e do outro o homem que amo.
Quero sambão com churrasco e as famílias reunidas. Quero ter certeza, ali no fundo da alma dele, de que ele me ama. Quero que ele saia correndo quando meu peito amargurado precisar de riso. Que ele esqueça, de vez em quando, seu lado egoísta, e lembre do meu. Que a gente brigue de ciúmes, porque ciúmes faz parte da paixão, e que faça as pazes rapidamente, porque paz faz parte
do amor.
Quero ser lembrada em horários malucos, todos os horários, pra sempre. Quero ser criança, mulher, homem, et, megera, maluca e, ainda assim, olhada com total reconhecimento de território. Quero sexo na escada e alguns hematomas e depois descanso numa cama nossa e pura. Quero foto brega na sala, com duas crianças enfeitando nossa moldura. Quero o sobrenome dele, o suor dele, a alma dele, o dinheiro dele (brincadeira...). Que ele me ame como a minha mãe, que seja mais forte que o meu pai, que seja a família que escolhi pra sempre. Quero que ele passe a mão na minha cabeça quando eu for sincera em minhas desculpas e que ele me ignore quando eu tentar enrolá-lo em minhas maldades. Quero que ele me torne uma pessoa melhor, que faça sexo como ninguém, que invente novas posições, que me faça comer peixe apimentado sem medo, respeite meus enjôos de sensibilidade, minhas esquisitices depressivas e morra de rir com meu senso de humor arrogante. Que seja lindo de uma beleza que me encha de tesão e que tenha um beijo que não desgaste com a rotina. Que a sua remela seja sequinha e não gosmenta e que o tempo leve um pouco de seu cabelo (adoro carecas...). Que suas escatologias não passem de piada e se materializem bem longe de mim. Tem que gostar de crianças, da minha mãe, e tem que odiar ver pessoas procurando comida no lixo. Tem que dançar charmoso, ser irônico, ser calmo porém macho (ou seja, não explodir por nada mas também não calar por tudo). Tem que ser meio artista, mas também ter que saber cuidar dos meus problemas burocráticos. Tem que amar tudo o que eu escrevo e me olhar com aquela cara de "essa mulher é única".
É mais ou menos isso. Achou muito? Claro que não precisa ser exatamente assim, tintim por tintim. Exigir demais pode fazer eu acabar sozinha em mais shows do Roberto Carlos. Deus me livre! Bom, analisando aqui, dá pra tirar umas coisinhas. Deixa eu ver... Resumindo então: tem que dizer que me ama e me amar mesmo, tem que rolar umas sacanagens e não pode ter remela
gosmenta. Pronto!
E quando eu tiver tudo isso e uma menina boba e invejosa me olhar e pensar que "aquela instituição feliz não passa de uma união solitária de aparências" vou ter pena desse coração solitário que ainda não encontrou o verdadeiro amor."
Ai Tati, você é a melhor!

quinta-feira, 29 de abril de 2010

"Uma (grande) nota sobre a (minha) desistência"

Acho tão triste esse negócio de desistir. Mas não me resta outra alternativa a não ser essa. Desistir mesmo sabe como é? Largar de lado, num canto escuro e esquecido. Talvez daqui uns... 3 meses ou 4 anos eu tente lembrar e descubra que ainda sinto qualquer coisa que me faça ir atrás. Mas não agora, não hoje, nem amanhã e nem na semana que vem. É simplesmente o fim. Coisa estranha de se dizer né? Afinal, sempre imaginei o nosso fim bem diferente disso. Imaginei você indo embora mas querendo mais que qualquer coisa no mundo que eu apenas diga: "fique". Imaginei muito choro, muita lágrima e muita tristeza - não essa que vivemos agora. Imaginei muitos abraços, muitos beijos, muitos carinhos. Não essa coisa fique-longe-de-mim-pra-sempre-eu-te-odeio. Não. Estava mais pra eu-te-amo-eu-vou-mas-quero-você-pra-sempre. Ou algo do tipo. Não essa bagunça toda em que uma hora você me ama e na outra me odeia. Nada disso, longe disso. Talvez um pouco de magoa, um pouco de tristeza, um pouco de amor, um pouco de tudo. Mas esse negócio de desistir não me agrada. Mas que outra solução pra esse problema que não isso? Eu luto até onde precisar, até cada mínima parte do meu corpo não aguentar mais. Até eu sufocar de dor, mas continuo. Agora já não tem mais essa coisa não-importa-o-que-aconteça-eu-não-vou-desistir. Que nada. Eu desisti mesmo. E sabe o que mais? Não faço como você que diz apenas eu-não-sofro-mais-por-você. Não. Eu digo: eu sofro mesmo, eu choro mesmo, eu me odeio (as vezes) mesmo, nunca precisei negar nada pra você. E assim como você disse, desde o dia que isso tudo acabou, eu continuo dizendo: eu te amo. Só que agora eu acrescento mais algumas palavras: eu te amo... mas eu desisto.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Desistir ou qualquer coisa assim

Desistir é sempre a alternativa mais plausível. Dizer "adeus e até nunca mais". Tão fácil, moleza. Vou apenas dizer que acabou e pronto. Fim. Adios. Isso não vai dar certo, eu digo pro meu coração. Larga a mão de ser burro cara, a fila anda, a vida continua, as flores ainda crescem e o mundo não vai acabar, sério. Mas que nada, ele não me ouve mais. Que coisa mais desesperadora. Desistir é sempre a opção que chama a atenção, a mais tentadora. Lutar pra que? Correr em círculos e acabar beijando a própria bunda pra que? Pra nada. Nunca teve fundamento algum tanto sofrimento pra nada. Afinal, o que você me da em troca? Algumas ligações pra espionar minha vida? Eu quero mais que isso. Passar poucas noites aqui só pra ter um corpo quente ao seu lado quando a madrugada esfriar? Eu quero isso todos os dias. Uma mensagem ou outra dizendo algo ruim? Não aguento mais isso. Ligar de volta quando eu ligo e você não atende? Isso é educação e não vontade. Ta vendo só? Eu tenho tantos e diversos motivos pra desistir. Nunca fui muito fã de pessoas assim. Desistir é fácil, é mais fácil sofrer logo de uma vez do que correr atrás pra ser feliz. Mas é assim que deve ser. Não é uma coisa que eu queira, lógico. Nos meus planos nunca esteve escrito que eu iria desistir. Eu até disse à você uma cinco ou seis ou vinte vezes que não iria desistir. Mas e ai, me diz: continuar porque? Essa é a parte triste, a parte em que todos sofremos e choramos. Desistir é fácil. Fracassar também. O fracasso de correr atrás e parar no nada, no vazio. Nunca entendi o sentido de lutar em vão, minha alma não se contenta só com o fato de lutar. Eu luto e ponto. E ai? Algo vai mudar? Você vai me amar mais por isso? Vai me amar absurdamente só pelo fato de que eu lutei, chorei, sofri e morri? Cara, eu só queria ser feliz. Eu só não queria ter que desistir. Essa definitivamente é a atitude mais idiota que já tomei. Já errei, consertei, errei maior ainda. Mas nada, está me ouvindo? NADA é mais idiota que isso. Desistir. E não seria apenas de você ou da felicidade que tínhamos. É do futuro. Dos planos. Cara, eu que tinha tantos planos. Aqueles bem idiotas mesmo: apartamento, família, cachorro e emprego. Desistir. Na minha cabeça eu enxergo A e B, onde A é morrer de amor e B é desistir. A segunda opção ainda me é muito mais atraente. Desistir é fácil, vem logo todo o sofrimento de uma vez, mata o amor e a esperança, acaba com os sonhos, mas passa. Uma hora isso tem que passar. E quanto menos você demonstra querer que eu não desista, ai é que eu desisto mesmo. Quer dizer? Eu não só do tipo que nada pra morrer na praia. Ou 8 ou 80. Ou você ou o nada. E agora, nesse exato momento eu prefiro o nada, o buraco, nem o sim, nem o não e nem o meio termo. O nada. O verdadeiro nada. A neutralidade de tudo que eu sinto. Porque no final, tudo é sofrimento mesmo. E é tudo correr em círculos e acabar beijando a própria bunda. É o nada. Eu só posso dizer: eu desisto.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

30 minutos.

Ir até onde eu deveria ir era apenas 10 minutos, e assim o fiz. A volta eram apenas 10 minutos, mas no final foram 30 minutos. Eu precisava daquilo, precisava andar e pensar. Andei várias quadras que não faziam parte do meu trajeto pra casa, dei voltas e voltas só por dar, porque no fundo eu precisava daquilo. Passei pelas ruas que desconhecia, até você me apresentar. Andei sem nem entender onde estava indo, eu apenas queria ir. E fui. Pra sua casa. Parei em frente, fiquei olhando. Quis chamar, ligar, apertar a campainha, bater palmas, qualquer coisa. Mas eu queria. Mas na hora não quis. Peguei o celular, achei o seu número. Olhei mil vezes, digitei cada número na minha cabeça, mas não passou disso. Quis sentar e ficar olhando, só pra lembrar das poucas vezes em que estive naquele lugar, que ao mesmo tempo me parecia tão desconhecido, mas tão aconchegante. Não quis acreditar o quão patética estava sendo. Desisti. Subi todas aquelas ruas até chegar no centro. Eu podia muito ir direto pro meu lugar, pra poder desabar de uma vez. Mas eu queria sofrer mais. Passei por todos os lugares que me lembram você, e até pelos quais a gente vivia se esbarrando, onde íamos nos dias em que não tínhamos o que fazer. Tinha os restaurantes, as lojas, o banco, as praças, as árvores, os ônibus, as pessoas, a bagunça, a multidão, tinha tudo. Passei por onde nem significou tanto assim, eu só quis lembrar. E no fundo, nem sei ao certo o que deveria ser lembrado, talvez o que nunca tenha sido esquecido. Só compreendia que eu precisava andar, precisava ver pessoas e pensar que existem problemas muito maiores que os meus. Eu queria andar até a chuva começar, ou então até minhas pernas doerem, e foi o que fiz. E finalmente parei. Mas não porque as pernas doeram, o que doeu foi outra coisa, foi a lembrança. Foi o coração.
Agora, se me permitir, vou seguir a vida de antes, de muito antes. E eu precisei apenas de 30 minutos, vento e muita gente pra poder entender o sentido disso. Meu coração precisou doer mais do que de costume. Eu precisei ficar mais estraçalhada. Não que eu me importe de viver estraçalhada, é que no fundo, um dia, te ver estraçalhado me doeu como nenhuma dor jamais conseguiu. Se me permitir, vou desistir agora. Agora.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Uma coisa é certa, a vida não é a mesma depois do término de um relacionamento, pelo menos não por um tempo. Falta chão, falta aquela rotina de comer no mesmo lugar aos domingos, de receber aquelas ligações ou aquelas mensagens... Parece que quando termina, só tem casal a sua volta. Só dá vontade de chorar ou muita raiva vendo cenas românticas em filmes ou novelas, parece que até para tomar um sorvete falta aquele infeliz. É... aconteceu comigo faz um mês. Mas teve um dia que eu acordei e senti uma coisa diferente, um sentimento que nem sei explicar, só sei que ao invés de acordar para mais um dia e dizer "bom dia" para alguém, eu acordei dizendo "já chega" para mim mesma. Eiiii!!!! Olha que blusa linda que eu nunca mais tinha usado! Genteee!!! Esse brinco eu nunca mais tinha visto... Já chega, sabe?! Olha para mim, sou muito mais do que um namoro, sou muito mais do que uma decepção, sou muito mais do que uma rotina a dois. Preciso me reinventar, eu posso me reinventar! Quanto aos casais ao meu redor? Que sejam felizes, quanto a rotina que eu estava acostumada? Já está mais do que na hora de experimentar novas coisas. Quanto a ele querer continuar com a nossa amizade? Tudo bem... Mas eu preciso de um tempo para mim. Às vezes em um relacionamento a gente esquece de amar a si próprio e passa a amar só o outro, talvez seja esse o maior problema com o término de um namoro. Quando acaba, "e agora quem me amará por mim?" Quer saber? JÁ CHEEEEEEGAAA!!!! ACORDA PARA A VIDA, MINHA FILHA!!!!! Olhe para si, talvez você esteja precisando disso. Existem muitas e muitas coisas que alguém pode fazer ao terminar um namoro. Ah! Uma coisa super importante... Nem pense, em hipótese alguma, tampar o seu buraco com um namoro subsequente, você não precisa disso. O que eu fiz depois que "acordei para a vida?", percebi que o meu amor por mim é muito, muito grande. Dependência emocional só leva à decadência da autoestima. Seja mais você. Não espere, nem sinta falta de um buquê em sua porta. Se presentei. Se dê a honra de ter a sua própria companhia...
by cereja

terça-feira, 20 de abril de 2010

Roubada

Já roubaram de mim coisas materiais. Já roubaram de mim amores que eu não consegui recuperar. Já permiti que me roubassem a alegria de viver durante alguns dias e a minha paciência quando mais precisei. Já me roubaram lágrimas que rolaram no meu rosto independente da minha vontade, roubaram também a minha inocência, me permitindo enxergar que as pessoas não são tão legais quanto parecem e que nem tanto desejam o sucesso alheio. O tempo me roubou o meu corpo de menina. O sono me roubou algumas horas a mais de um vívido êxtase casual. O nervosismo me roubou a execução daquela atitude que ensaiei ,mentalmente por várias e várias vezes, até que conseguisse atingir a perfeição, mas na hora hesitei. Um leve sorriso ,às vezes, é roubado de mim quando quero fazer uma cena, mas acabo me entregando com uma boca de lua minguante. Mas o melhor de todos os roubos que eu sofro, é um específico que nem é tão frequente, me pega de repente, como todos os outros, mas é diferente. Na verdade é um conjunto de roubos, primeiro o som do ambiente em que estou, depois a tranquilidade do meu coração que palpita incessantemente, a noção temporal de todas as coisas ao meu redor e ,finalmente, uma falta de ar inexplicável que dura um zilhão de anos em cinco segundos. Do que se trata esse roubo? Você sabe... by cereja

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Amor a segunda vista.

E agora que eu tenho certeza que você não é aquele, eu me descubro cagando um monte pra tudo isso.
Porque você não é perfeito, mas o homem idealizado não tem o maldito cílio torto que eu amo tanto e que vez ou outra te causa alguma remela.
O mala do cara dos meus sonhos não tem o desenho da sua boca: com mais tinta do que contorno.
O homem perfeito é um puta de um chato com seus cds cults e cartazes de filmes europeus pela sala. Você com aquele seu vinil incansável do Bob Marley é muito divertido, porque a gente briga até não agüentar mais por causa dele e depois faz as pazes transando do nosso jeito.
Porque o homem perfeito é cheio de estripulias sexuais, mas eu detesto estripulias e adoro nosso jeito intenso de se amar cheio de inconformismos com a intensidade.
Eu sonhei sim com esse cara, que me levaria tomar sopas quentinhas em lugares com jazz e olharia para mim a noite toda achando que maior diversão no mundo não poderia haver.
Mas você com essa sua mania de encher de amigos as pizzarias e soltar um ou outro "irado" me faz te odiar tanto e querer tanto a sua atenção. E me faz querer tanto você daqui a pouco, porque você não enjoa. Você me cansa demais mas não enjoa.
E quando você me cansa eu enfio a minha cabeça no fortinho do seu peito, eu que sempre odiei os malhados, e peço a Deus para que eu nunca desista de te odiar tanto assim, porque não pode existir ódio mais cheio de borboletas, notas musicais e passarinhos azuis.
Eu quero sim te matar, porque você tem uma mania surda de responder todas as minhas perguntas com um "ãhhh?" enjoado, e eu quero te socar porque você já descobriu tudo o que me irrita e gosta de me ver assim. Mas quando qualquer outra coisa no mundo me irrita, eu lembro que eu tenho você pra me fazer sentir essa raiva nossa de sitcom inteligente.
Não somos um casal melado, mas duvido que tenha alguém que duvide do nosso amor. Quer dizer, a gente duvida, mas a gente é louco.
E o homem perfeito teria a maior paciência do mundo em me curar dessa loucura, e você tem a maior paciência do mundo em aumentar a minha loucura.
Mas eu preciso da minha loucura para escrever coisas geniais e ganhar dinheiro com isso. E sustentar você que, apesar de ganhar bem, é um vagabundo que dorme demais e quer largar tudo para morar na praia.
O homem perfeito não é um boa-vida não, mas certamente eu o trairia com você.
E sua cara de sonso despretensioso para a vida, enquanto eu coleciono rugas, berros e inchaços. A sua cara de que "não é comigo" vai muito bem com a minha máscara da agressividade que acredita que tudo é comigo.

Nossa dança num baile de máscaras é eterna, porque quando eu peso a mão, você me faz voar. E quando você perde o chão, eu te dou um soco na cabeça pra ver se achato a sua alegria pra caber na minha.
E você cabe de sobra na minha intensidada, e acaba que a minha neurose fria é o quentinho da sua cama.
E o homem perfeito tem um beijo profundo e ritmado, que de tão melado e encaixável me deixa saciada de um jeito que encerra o meu desejo. E você tem um jeito caótico de me beijar meio burro, porque se eu vou para um lado, você vai para o mesmo. E é nesta única hora em que você não deveria concordar comigo, que você concorda.
E eu nunca me dou por satisfeita, e acabo achando que a gente ainda nem deu o nosso primeiro beijo, o que me causa uma ansiedade de paixão inicial que não deixa o peito relaxar.
E o homem das minhas ilusões me deixaria relaxar numa enorme cama amorosa, e acordaria inúmeras vezes para me ver dormir abraçada a toda a certeza que ele me daria com apenas um segundo de olhar.
É cansativo viver sem vírgulas porque eu respiro a sua existência 24 horas por dia, e só coloco vírgulas teatrais para você não enjoar de mim.
Te amar não é fácil, é quase o anti-amor. É muito quase como se você nem existisse, porque só o homem perfeito mereceria tanto sentimento. E eu te anulo o tempo todo dizendo para mim, repetindo para mim, o quanto você falha, o quanto você fraqueja, o quanto você se engana.
E fazendo isso, eu só consigo te amar mais ainda. Porque você enterrou meu sonho aprisionado pela perfeição e me libertou para vivê-lo.
E a gente vai por aí, se completando assim meio torto mesmo. E Deus escrevendo certo pelas nossas linhas que se não fossem tão tortas, não teriam se cruzado.
Ai Tati, você é um máximo!

quinta-feira, 8 de abril de 2010



Coração acelerado, falta de ar, tremedeira. Agonizei na cama essa noite. Berrei em silêncio, mas minha boca se abriu, meu abdômen se contraiu, meus joelhos subiram e eu fiquei como um feto de barriga pra cima. Abri os olhos e vi um clarão na janela, e ainda era noite – de lua cheia ainda por cima. Você dormia, não dormia? Eram quase duas da manhã. Mas você me ouviu? Foi tão forte meu grito que eu tenho quase certeza que você me ouviu! Eu queria fugir dali, porque a beleza doía, dói, mas não conseguia, não consigo...


...Terminei de ouvir aquele disco e quis levantar, mas me forcei a ficar na cama. Dormi. Quase três já. Sonhei, e, merda! não me lembro mais, tava tudo tão fresquinho. Ah! Eu ajudava alguém, um homem, eu via coisas que ninguém conseguia ver e dizia feito profecia, cartomante ou advinha. Não lembro os conselhos que dei, mas também havia crianças brincando, gente que não entendia, e gente que confiava em mim. Seis e meia já estava de olhos abertos, sem despertador ou mãe me acordando. Às sete pulei da cama e estou ouvindo tudo de novo: coração acelerado, falta de ar, tremedeira, frio. Beleza assustadora.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Respiração...



Os tempos mudaram
O vento sopra na direção onde me perdi
Junto comigo foram amores, todos na mesma situação
Mas vieram amigos com suas chaves generosamente doadas
Suportei mais do que vivi
E agora estou aqui vendo tudo mudar novamente
Não tenho certeza de nada
Mas sei o que eu quero
E é tão difícil saber o que se quer...
Estou curtindo esse momento
Aos poucos me acho
Alguns ainda me perdem, mas eu encontrei o meu caminho
O que tive um dia eu tenho até hoje
E reconheço a minha impotência diante do destino
É tudo mentira, nada escapa – disse o Bixo
Sábias palavras
Um dia aqui, outro lá e um terceiro pra tentar
Quando a gente passa por uma dor muito grande
A única verdadeira, talvez
Todo o resto vira resto de vez
E a gente segue, deixa passar
Hoje eu me importo muito mais comigo
E não é egoísmo
É a vida real que se esfregou na minha cara
E é pela necessidade da magia que eu sigo
Formou-se uma lista na minha cabeça
Deixei o coração fora disso
E risco com um sorriso aqueles que não se permitiram sentir o novo vento ainda
Confio na poesia
Penso que nunca a encontrei de verdade
Mas eu sinto
Confio no sentimento
E entendo a covardia alheia
Mas a paciência esgotou
A esperança também
Porque no fundo, a única e a última que morre sou eu
A espera é minha e a decisão também
Não sei brincar de bem-me-quer-mal-me-quer
As flores são muito bonitas para serem despetaladas
Distribuo lírios mesmo, sem medo, inteiros
E anjo meu, confia no que te digo, confia no que você vê
Suas asas estão comigo, seu trabalho foi perfeito
E eu adoro te exibir por aí
Encho a boca e deixo a alma dizer: esse é o meu melhor amigo
Nem nos melhores poetas encontrei tamanho abrigo
Você é o meu poeta preferido
E eu pra sempre a aprendiz
Só que agora não há mais agonia nos meus olhos
A minha voz é clara
E a afobação cedeu o lugar pra maturidade
Mas não se preocupa, minha criança está segura
E de mãos dadas com ela, tal como você previu,
Ela me agradeceu dizendo que se tornou tudo que queria ser.

Essa é a cor.



A cor da felicidade é o roxo, e eu não pensei duas vezes entre limão ou uvas. Uvas, por favor. Nunca experimentei. É gostoso, disse o moço. E eu estava ansiosa. Parecia errado, merecia desculpa, mas a viagem era minha, então podia encher até a boca aquela vontade de voltar para o quarto. Ninguém respeita o que eu peço, meu não atrai os sins curiosos de pernas e bucetas sem paus, andarilhos amantes do espaço pretensioso que não fica nem no céu nem no inferno. Mas também não é entre, porque esse lugar eu respeito. É nem. E os olhares são preconceituosos ao ouvirem tal expressão, e eu já nem ligo se o plural foi empregado incorretamente. Basta comunicar. Danem-se os mins conjugando o amor. Não importa o sujeito, o que conta é amar. Todo aquele roxo passa através de mim e eu deixo que ele me sugue até quase me vomitar. E no mar, feito caravela, queimaria o primeiro que se atrevesse a invadir o meu lugar. Dessa forma seria inesquecível e aquele cara ou mulher me teria nas suas histórias pra contar. A sereia virou medusa traiçoeira, e alimento a minha cabeça para eu própria não me devorar. O espelho me diz que o sol está ao meu lado e meu brilho amarelo perturba qualquer amante, correspondidos ou não. Curvo-me diante da minha própria imagem. A deusa sou eu e o que entra em mim agora passa pelo controle da felicidade. Mais roxo, por favor, pode completar.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Lente de aumento.


Num dia o que povoava o meu silêncio eram sorrisos mudos. Tremedeira motivadora do risco que se corre consentido. Outro dia, vazio. O forte foi construído sob areia movediça. E a censura me suga nessa admissão. Foi tudo de verdade. É tudo mentira. Foi tudo uma escolha. É tudo imposição. Ainda sou aquela que se descompensa por uma ilusão. E quebra o silêncio da convenção. Tremendo por abstinência. Babando em corrosão. Implodindo o vômito quente em palavras controladas. Validando a falta de validade. Das lentes de aumento da felicidade.