quinta-feira, 29 de abril de 2010

"Uma (grande) nota sobre a (minha) desistência"

Acho tão triste esse negócio de desistir. Mas não me resta outra alternativa a não ser essa. Desistir mesmo sabe como é? Largar de lado, num canto escuro e esquecido. Talvez daqui uns... 3 meses ou 4 anos eu tente lembrar e descubra que ainda sinto qualquer coisa que me faça ir atrás. Mas não agora, não hoje, nem amanhã e nem na semana que vem. É simplesmente o fim. Coisa estranha de se dizer né? Afinal, sempre imaginei o nosso fim bem diferente disso. Imaginei você indo embora mas querendo mais que qualquer coisa no mundo que eu apenas diga: "fique". Imaginei muito choro, muita lágrima e muita tristeza - não essa que vivemos agora. Imaginei muitos abraços, muitos beijos, muitos carinhos. Não essa coisa fique-longe-de-mim-pra-sempre-eu-te-odeio. Não. Estava mais pra eu-te-amo-eu-vou-mas-quero-você-pra-sempre. Ou algo do tipo. Não essa bagunça toda em que uma hora você me ama e na outra me odeia. Nada disso, longe disso. Talvez um pouco de magoa, um pouco de tristeza, um pouco de amor, um pouco de tudo. Mas esse negócio de desistir não me agrada. Mas que outra solução pra esse problema que não isso? Eu luto até onde precisar, até cada mínima parte do meu corpo não aguentar mais. Até eu sufocar de dor, mas continuo. Agora já não tem mais essa coisa não-importa-o-que-aconteça-eu-não-vou-desistir. Que nada. Eu desisti mesmo. E sabe o que mais? Não faço como você que diz apenas eu-não-sofro-mais-por-você. Não. Eu digo: eu sofro mesmo, eu choro mesmo, eu me odeio (as vezes) mesmo, nunca precisei negar nada pra você. E assim como você disse, desde o dia que isso tudo acabou, eu continuo dizendo: eu te amo. Só que agora eu acrescento mais algumas palavras: eu te amo... mas eu desisto.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Desistir ou qualquer coisa assim

Desistir é sempre a alternativa mais plausível. Dizer "adeus e até nunca mais". Tão fácil, moleza. Vou apenas dizer que acabou e pronto. Fim. Adios. Isso não vai dar certo, eu digo pro meu coração. Larga a mão de ser burro cara, a fila anda, a vida continua, as flores ainda crescem e o mundo não vai acabar, sério. Mas que nada, ele não me ouve mais. Que coisa mais desesperadora. Desistir é sempre a opção que chama a atenção, a mais tentadora. Lutar pra que? Correr em círculos e acabar beijando a própria bunda pra que? Pra nada. Nunca teve fundamento algum tanto sofrimento pra nada. Afinal, o que você me da em troca? Algumas ligações pra espionar minha vida? Eu quero mais que isso. Passar poucas noites aqui só pra ter um corpo quente ao seu lado quando a madrugada esfriar? Eu quero isso todos os dias. Uma mensagem ou outra dizendo algo ruim? Não aguento mais isso. Ligar de volta quando eu ligo e você não atende? Isso é educação e não vontade. Ta vendo só? Eu tenho tantos e diversos motivos pra desistir. Nunca fui muito fã de pessoas assim. Desistir é fácil, é mais fácil sofrer logo de uma vez do que correr atrás pra ser feliz. Mas é assim que deve ser. Não é uma coisa que eu queira, lógico. Nos meus planos nunca esteve escrito que eu iria desistir. Eu até disse à você uma cinco ou seis ou vinte vezes que não iria desistir. Mas e ai, me diz: continuar porque? Essa é a parte triste, a parte em que todos sofremos e choramos. Desistir é fácil. Fracassar também. O fracasso de correr atrás e parar no nada, no vazio. Nunca entendi o sentido de lutar em vão, minha alma não se contenta só com o fato de lutar. Eu luto e ponto. E ai? Algo vai mudar? Você vai me amar mais por isso? Vai me amar absurdamente só pelo fato de que eu lutei, chorei, sofri e morri? Cara, eu só queria ser feliz. Eu só não queria ter que desistir. Essa definitivamente é a atitude mais idiota que já tomei. Já errei, consertei, errei maior ainda. Mas nada, está me ouvindo? NADA é mais idiota que isso. Desistir. E não seria apenas de você ou da felicidade que tínhamos. É do futuro. Dos planos. Cara, eu que tinha tantos planos. Aqueles bem idiotas mesmo: apartamento, família, cachorro e emprego. Desistir. Na minha cabeça eu enxergo A e B, onde A é morrer de amor e B é desistir. A segunda opção ainda me é muito mais atraente. Desistir é fácil, vem logo todo o sofrimento de uma vez, mata o amor e a esperança, acaba com os sonhos, mas passa. Uma hora isso tem que passar. E quanto menos você demonstra querer que eu não desista, ai é que eu desisto mesmo. Quer dizer? Eu não só do tipo que nada pra morrer na praia. Ou 8 ou 80. Ou você ou o nada. E agora, nesse exato momento eu prefiro o nada, o buraco, nem o sim, nem o não e nem o meio termo. O nada. O verdadeiro nada. A neutralidade de tudo que eu sinto. Porque no final, tudo é sofrimento mesmo. E é tudo correr em círculos e acabar beijando a própria bunda. É o nada. Eu só posso dizer: eu desisto.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

30 minutos.

Ir até onde eu deveria ir era apenas 10 minutos, e assim o fiz. A volta eram apenas 10 minutos, mas no final foram 30 minutos. Eu precisava daquilo, precisava andar e pensar. Andei várias quadras que não faziam parte do meu trajeto pra casa, dei voltas e voltas só por dar, porque no fundo eu precisava daquilo. Passei pelas ruas que desconhecia, até você me apresentar. Andei sem nem entender onde estava indo, eu apenas queria ir. E fui. Pra sua casa. Parei em frente, fiquei olhando. Quis chamar, ligar, apertar a campainha, bater palmas, qualquer coisa. Mas eu queria. Mas na hora não quis. Peguei o celular, achei o seu número. Olhei mil vezes, digitei cada número na minha cabeça, mas não passou disso. Quis sentar e ficar olhando, só pra lembrar das poucas vezes em que estive naquele lugar, que ao mesmo tempo me parecia tão desconhecido, mas tão aconchegante. Não quis acreditar o quão patética estava sendo. Desisti. Subi todas aquelas ruas até chegar no centro. Eu podia muito ir direto pro meu lugar, pra poder desabar de uma vez. Mas eu queria sofrer mais. Passei por todos os lugares que me lembram você, e até pelos quais a gente vivia se esbarrando, onde íamos nos dias em que não tínhamos o que fazer. Tinha os restaurantes, as lojas, o banco, as praças, as árvores, os ônibus, as pessoas, a bagunça, a multidão, tinha tudo. Passei por onde nem significou tanto assim, eu só quis lembrar. E no fundo, nem sei ao certo o que deveria ser lembrado, talvez o que nunca tenha sido esquecido. Só compreendia que eu precisava andar, precisava ver pessoas e pensar que existem problemas muito maiores que os meus. Eu queria andar até a chuva começar, ou então até minhas pernas doerem, e foi o que fiz. E finalmente parei. Mas não porque as pernas doeram, o que doeu foi outra coisa, foi a lembrança. Foi o coração.
Agora, se me permitir, vou seguir a vida de antes, de muito antes. E eu precisei apenas de 30 minutos, vento e muita gente pra poder entender o sentido disso. Meu coração precisou doer mais do que de costume. Eu precisei ficar mais estraçalhada. Não que eu me importe de viver estraçalhada, é que no fundo, um dia, te ver estraçalhado me doeu como nenhuma dor jamais conseguiu. Se me permitir, vou desistir agora. Agora.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Uma coisa é certa, a vida não é a mesma depois do término de um relacionamento, pelo menos não por um tempo. Falta chão, falta aquela rotina de comer no mesmo lugar aos domingos, de receber aquelas ligações ou aquelas mensagens... Parece que quando termina, só tem casal a sua volta. Só dá vontade de chorar ou muita raiva vendo cenas românticas em filmes ou novelas, parece que até para tomar um sorvete falta aquele infeliz. É... aconteceu comigo faz um mês. Mas teve um dia que eu acordei e senti uma coisa diferente, um sentimento que nem sei explicar, só sei que ao invés de acordar para mais um dia e dizer "bom dia" para alguém, eu acordei dizendo "já chega" para mim mesma. Eiiii!!!! Olha que blusa linda que eu nunca mais tinha usado! Genteee!!! Esse brinco eu nunca mais tinha visto... Já chega, sabe?! Olha para mim, sou muito mais do que um namoro, sou muito mais do que uma decepção, sou muito mais do que uma rotina a dois. Preciso me reinventar, eu posso me reinventar! Quanto aos casais ao meu redor? Que sejam felizes, quanto a rotina que eu estava acostumada? Já está mais do que na hora de experimentar novas coisas. Quanto a ele querer continuar com a nossa amizade? Tudo bem... Mas eu preciso de um tempo para mim. Às vezes em um relacionamento a gente esquece de amar a si próprio e passa a amar só o outro, talvez seja esse o maior problema com o término de um namoro. Quando acaba, "e agora quem me amará por mim?" Quer saber? JÁ CHEEEEEEGAAA!!!! ACORDA PARA A VIDA, MINHA FILHA!!!!! Olhe para si, talvez você esteja precisando disso. Existem muitas e muitas coisas que alguém pode fazer ao terminar um namoro. Ah! Uma coisa super importante... Nem pense, em hipótese alguma, tampar o seu buraco com um namoro subsequente, você não precisa disso. O que eu fiz depois que "acordei para a vida?", percebi que o meu amor por mim é muito, muito grande. Dependência emocional só leva à decadência da autoestima. Seja mais você. Não espere, nem sinta falta de um buquê em sua porta. Se presentei. Se dê a honra de ter a sua própria companhia...
by cereja

terça-feira, 20 de abril de 2010

Roubada

Já roubaram de mim coisas materiais. Já roubaram de mim amores que eu não consegui recuperar. Já permiti que me roubassem a alegria de viver durante alguns dias e a minha paciência quando mais precisei. Já me roubaram lágrimas que rolaram no meu rosto independente da minha vontade, roubaram também a minha inocência, me permitindo enxergar que as pessoas não são tão legais quanto parecem e que nem tanto desejam o sucesso alheio. O tempo me roubou o meu corpo de menina. O sono me roubou algumas horas a mais de um vívido êxtase casual. O nervosismo me roubou a execução daquela atitude que ensaiei ,mentalmente por várias e várias vezes, até que conseguisse atingir a perfeição, mas na hora hesitei. Um leve sorriso ,às vezes, é roubado de mim quando quero fazer uma cena, mas acabo me entregando com uma boca de lua minguante. Mas o melhor de todos os roubos que eu sofro, é um específico que nem é tão frequente, me pega de repente, como todos os outros, mas é diferente. Na verdade é um conjunto de roubos, primeiro o som do ambiente em que estou, depois a tranquilidade do meu coração que palpita incessantemente, a noção temporal de todas as coisas ao meu redor e ,finalmente, uma falta de ar inexplicável que dura um zilhão de anos em cinco segundos. Do que se trata esse roubo? Você sabe... by cereja

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Amor a segunda vista.

E agora que eu tenho certeza que você não é aquele, eu me descubro cagando um monte pra tudo isso.
Porque você não é perfeito, mas o homem idealizado não tem o maldito cílio torto que eu amo tanto e que vez ou outra te causa alguma remela.
O mala do cara dos meus sonhos não tem o desenho da sua boca: com mais tinta do que contorno.
O homem perfeito é um puta de um chato com seus cds cults e cartazes de filmes europeus pela sala. Você com aquele seu vinil incansável do Bob Marley é muito divertido, porque a gente briga até não agüentar mais por causa dele e depois faz as pazes transando do nosso jeito.
Porque o homem perfeito é cheio de estripulias sexuais, mas eu detesto estripulias e adoro nosso jeito intenso de se amar cheio de inconformismos com a intensidade.
Eu sonhei sim com esse cara, que me levaria tomar sopas quentinhas em lugares com jazz e olharia para mim a noite toda achando que maior diversão no mundo não poderia haver.
Mas você com essa sua mania de encher de amigos as pizzarias e soltar um ou outro "irado" me faz te odiar tanto e querer tanto a sua atenção. E me faz querer tanto você daqui a pouco, porque você não enjoa. Você me cansa demais mas não enjoa.
E quando você me cansa eu enfio a minha cabeça no fortinho do seu peito, eu que sempre odiei os malhados, e peço a Deus para que eu nunca desista de te odiar tanto assim, porque não pode existir ódio mais cheio de borboletas, notas musicais e passarinhos azuis.
Eu quero sim te matar, porque você tem uma mania surda de responder todas as minhas perguntas com um "ãhhh?" enjoado, e eu quero te socar porque você já descobriu tudo o que me irrita e gosta de me ver assim. Mas quando qualquer outra coisa no mundo me irrita, eu lembro que eu tenho você pra me fazer sentir essa raiva nossa de sitcom inteligente.
Não somos um casal melado, mas duvido que tenha alguém que duvide do nosso amor. Quer dizer, a gente duvida, mas a gente é louco.
E o homem perfeito teria a maior paciência do mundo em me curar dessa loucura, e você tem a maior paciência do mundo em aumentar a minha loucura.
Mas eu preciso da minha loucura para escrever coisas geniais e ganhar dinheiro com isso. E sustentar você que, apesar de ganhar bem, é um vagabundo que dorme demais e quer largar tudo para morar na praia.
O homem perfeito não é um boa-vida não, mas certamente eu o trairia com você.
E sua cara de sonso despretensioso para a vida, enquanto eu coleciono rugas, berros e inchaços. A sua cara de que "não é comigo" vai muito bem com a minha máscara da agressividade que acredita que tudo é comigo.

Nossa dança num baile de máscaras é eterna, porque quando eu peso a mão, você me faz voar. E quando você perde o chão, eu te dou um soco na cabeça pra ver se achato a sua alegria pra caber na minha.
E você cabe de sobra na minha intensidada, e acaba que a minha neurose fria é o quentinho da sua cama.
E o homem perfeito tem um beijo profundo e ritmado, que de tão melado e encaixável me deixa saciada de um jeito que encerra o meu desejo. E você tem um jeito caótico de me beijar meio burro, porque se eu vou para um lado, você vai para o mesmo. E é nesta única hora em que você não deveria concordar comigo, que você concorda.
E eu nunca me dou por satisfeita, e acabo achando que a gente ainda nem deu o nosso primeiro beijo, o que me causa uma ansiedade de paixão inicial que não deixa o peito relaxar.
E o homem das minhas ilusões me deixaria relaxar numa enorme cama amorosa, e acordaria inúmeras vezes para me ver dormir abraçada a toda a certeza que ele me daria com apenas um segundo de olhar.
É cansativo viver sem vírgulas porque eu respiro a sua existência 24 horas por dia, e só coloco vírgulas teatrais para você não enjoar de mim.
Te amar não é fácil, é quase o anti-amor. É muito quase como se você nem existisse, porque só o homem perfeito mereceria tanto sentimento. E eu te anulo o tempo todo dizendo para mim, repetindo para mim, o quanto você falha, o quanto você fraqueja, o quanto você se engana.
E fazendo isso, eu só consigo te amar mais ainda. Porque você enterrou meu sonho aprisionado pela perfeição e me libertou para vivê-lo.
E a gente vai por aí, se completando assim meio torto mesmo. E Deus escrevendo certo pelas nossas linhas que se não fossem tão tortas, não teriam se cruzado.
Ai Tati, você é um máximo!

quinta-feira, 8 de abril de 2010



Coração acelerado, falta de ar, tremedeira. Agonizei na cama essa noite. Berrei em silêncio, mas minha boca se abriu, meu abdômen se contraiu, meus joelhos subiram e eu fiquei como um feto de barriga pra cima. Abri os olhos e vi um clarão na janela, e ainda era noite – de lua cheia ainda por cima. Você dormia, não dormia? Eram quase duas da manhã. Mas você me ouviu? Foi tão forte meu grito que eu tenho quase certeza que você me ouviu! Eu queria fugir dali, porque a beleza doía, dói, mas não conseguia, não consigo...


...Terminei de ouvir aquele disco e quis levantar, mas me forcei a ficar na cama. Dormi. Quase três já. Sonhei, e, merda! não me lembro mais, tava tudo tão fresquinho. Ah! Eu ajudava alguém, um homem, eu via coisas que ninguém conseguia ver e dizia feito profecia, cartomante ou advinha. Não lembro os conselhos que dei, mas também havia crianças brincando, gente que não entendia, e gente que confiava em mim. Seis e meia já estava de olhos abertos, sem despertador ou mãe me acordando. Às sete pulei da cama e estou ouvindo tudo de novo: coração acelerado, falta de ar, tremedeira, frio. Beleza assustadora.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Respiração...



Os tempos mudaram
O vento sopra na direção onde me perdi
Junto comigo foram amores, todos na mesma situação
Mas vieram amigos com suas chaves generosamente doadas
Suportei mais do que vivi
E agora estou aqui vendo tudo mudar novamente
Não tenho certeza de nada
Mas sei o que eu quero
E é tão difícil saber o que se quer...
Estou curtindo esse momento
Aos poucos me acho
Alguns ainda me perdem, mas eu encontrei o meu caminho
O que tive um dia eu tenho até hoje
E reconheço a minha impotência diante do destino
É tudo mentira, nada escapa – disse o Bixo
Sábias palavras
Um dia aqui, outro lá e um terceiro pra tentar
Quando a gente passa por uma dor muito grande
A única verdadeira, talvez
Todo o resto vira resto de vez
E a gente segue, deixa passar
Hoje eu me importo muito mais comigo
E não é egoísmo
É a vida real que se esfregou na minha cara
E é pela necessidade da magia que eu sigo
Formou-se uma lista na minha cabeça
Deixei o coração fora disso
E risco com um sorriso aqueles que não se permitiram sentir o novo vento ainda
Confio na poesia
Penso que nunca a encontrei de verdade
Mas eu sinto
Confio no sentimento
E entendo a covardia alheia
Mas a paciência esgotou
A esperança também
Porque no fundo, a única e a última que morre sou eu
A espera é minha e a decisão também
Não sei brincar de bem-me-quer-mal-me-quer
As flores são muito bonitas para serem despetaladas
Distribuo lírios mesmo, sem medo, inteiros
E anjo meu, confia no que te digo, confia no que você vê
Suas asas estão comigo, seu trabalho foi perfeito
E eu adoro te exibir por aí
Encho a boca e deixo a alma dizer: esse é o meu melhor amigo
Nem nos melhores poetas encontrei tamanho abrigo
Você é o meu poeta preferido
E eu pra sempre a aprendiz
Só que agora não há mais agonia nos meus olhos
A minha voz é clara
E a afobação cedeu o lugar pra maturidade
Mas não se preocupa, minha criança está segura
E de mãos dadas com ela, tal como você previu,
Ela me agradeceu dizendo que se tornou tudo que queria ser.

Essa é a cor.



A cor da felicidade é o roxo, e eu não pensei duas vezes entre limão ou uvas. Uvas, por favor. Nunca experimentei. É gostoso, disse o moço. E eu estava ansiosa. Parecia errado, merecia desculpa, mas a viagem era minha, então podia encher até a boca aquela vontade de voltar para o quarto. Ninguém respeita o que eu peço, meu não atrai os sins curiosos de pernas e bucetas sem paus, andarilhos amantes do espaço pretensioso que não fica nem no céu nem no inferno. Mas também não é entre, porque esse lugar eu respeito. É nem. E os olhares são preconceituosos ao ouvirem tal expressão, e eu já nem ligo se o plural foi empregado incorretamente. Basta comunicar. Danem-se os mins conjugando o amor. Não importa o sujeito, o que conta é amar. Todo aquele roxo passa através de mim e eu deixo que ele me sugue até quase me vomitar. E no mar, feito caravela, queimaria o primeiro que se atrevesse a invadir o meu lugar. Dessa forma seria inesquecível e aquele cara ou mulher me teria nas suas histórias pra contar. A sereia virou medusa traiçoeira, e alimento a minha cabeça para eu própria não me devorar. O espelho me diz que o sol está ao meu lado e meu brilho amarelo perturba qualquer amante, correspondidos ou não. Curvo-me diante da minha própria imagem. A deusa sou eu e o que entra em mim agora passa pelo controle da felicidade. Mais roxo, por favor, pode completar.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Lente de aumento.


Num dia o que povoava o meu silêncio eram sorrisos mudos. Tremedeira motivadora do risco que se corre consentido. Outro dia, vazio. O forte foi construído sob areia movediça. E a censura me suga nessa admissão. Foi tudo de verdade. É tudo mentira. Foi tudo uma escolha. É tudo imposição. Ainda sou aquela que se descompensa por uma ilusão. E quebra o silêncio da convenção. Tremendo por abstinência. Babando em corrosão. Implodindo o vômito quente em palavras controladas. Validando a falta de validade. Das lentes de aumento da felicidade.


Placebo emocional.

Relacionamentos naufragados são como domingos chuvosos: sabemos que não são úteis para nada, mas insistimos que podem servir pra alguma coisa. Então, dominados pelo cinza e pela sensação de abandono, reembarcamos na canoa furada. E conseguimos ainda mais fatos para engordar as lamentações sobre o quão infelizes somos nós e abjetamos, os outros. Mas esquecemos que fomos (re)conquistados porque teimamos em ter fé em coisas que não dependem de fé. Por que acreditamos que o que era ruim até um segundo atrás poderia ter se tornado perfeito e reluzente? Fomos seduzidos pelo que quisemos ver e não pelo que estava na nossa frente. Ficamos agoniados por não ter respostas e projetamos todas as soluções na 'presença curadora' do outro.
Mas elas não vêm. E a mágoa volta. Dobrada. Chorosos, pedimos ao céu uma explicação razoável para o bis do sofrimento. Tentamos nos consolar nos ombros de amigos, livros de auto-ajuda, sexo fácil, mas a explicação teima em não vir. Não adianta procurar na sua testa: você sofre porque é uma besta.
A experiencia vivida nos deu avisos suficientes de que a relação, se fosse um sapato, não era do tamanho do nosso pé: ou vai nos dar calo (de novo) ou cair no meio da rua. Vimos com nossos próprios olhos todos os problemas; os gritos das brigas arranharem a garganta e mesmo assim tentamos, desesperadamente, acreditar que dois monólogos podem fazer um diálogo. Mas a única coisa que conseguimos são mais calos, ainda mais doídos.
O fato é que, por comodismo e paúra, nos acostumamos até com a infelicidade de um relacionamentoo capenga. O temor diante do novo nos priva da grande alegria de descobrir que o mundo é maior que a nossa dor-de-cotovelo, que o cheiro ou os traços do(a) ex. Esse temor da rejeição, da exposição da falta de controle perante o que não conhecemos é o que de mais castradir podemos fazer a nós mesmos.
Ansiar por um momento que nunca se repetirá é apenas o outro lado de ansiar por um momento que passou para sempre. O passado só é lindo porque já foi. Não adianta tentar reproduzir as cores dele no presente porque o tom nunca será o mesmo. Nem você. Nem o outro. Esse presente (re)fantasiado, por melhor que seja, nunca se igualará às suas expectativas ou lembranças. E acabará, fatalmente, em decepção.
Então, o que resta, é levantar âncora: quem anda olhando pra trás acaba tropeçando. E perdendo toda a paisagem.